quarta-feira, 2 de abril de 2014

ARTIGO: Da honra de ser porto-alegrense

No dia 16 de fevereiro de 1978, Porto Alegre me acolheu. Migrante goiano, do interior de Piracanjuba, desembarquei na rodoviária com uma vontade forte o bastante para reinventar meu destino, embora não tivesse a mínima ideia do quanto a Capital pudesse contribuir para esta aventura.

Um mês depois, a TV Guaíba e o Brique da Redenção eram inaugurados. Ainda em 1978, Pedro Simon foi eleito senador da República, e o MDB obteve significativa vitória em Porto Alegre. Os movimentos sociais pela abertura política e redemocratização ganhavam corpo entre os gaúchos. Assim, do destino traçado de tocar a roça e de desprezar os assuntos humanos, redescobri- me numa cidade talhada para fazer a história, porque mundaniza as ideias, os problemas e os desafios do seu povo, através do debate público.

Nesse contexto, ter sido eleito vereador e vice-prefeito não pode ser encarado como um prêmio, mas como uma honra, contida numa exigência, que é zelar pela democracia e pela qualidade de vida da população. Mas também há um Pampa enorme, separando a Porto Alegre que me acolheu daquela que hoje ajudo a governar. Pois não foi só a efervescência social, política e cultural que me impactaram tão logo aqui cheguei. Foi, sobretudo, uma ideia de progresso que se parecia com um cavalo encilhado, sobre o qual bastaria montarmos para que alcançássemos o paraíso, e que, à época, contrastava com um Centro Histórico degradado, que afastava moradores e frequentadores.

Hoje sabemos o quanto este modelo contribuiu, também, para o comprometimento do meio ambiente, para uma estética urbana que fere os olhos, para o avanço dos automóveis sobre os espaços públicos, para o afastamento das pessoas das ruas e do convívio. Minha primeira visão do Centro Histórico.

Ao comemorarmos os 242 anos de Porto Alegre, somos desafiados por um novo tempo, no qual a convivência entre os porto-alegrenses deve ser o fio condutor de iniciativas continuadas, públicas e da sociedade, e que já ocorrem em toda a cidade.

A Serenata da Redenção, o Carnaval de Rua da Cidade Baixa, o Brechó do projeto Refloresta, a Biciescola do Parque Marinha, o Corredor Cultural da Rua da Praia, a Semana da Restinga retomam um padrão de ocupação do espaço público, no qual cada um se sente responsável pelo bem-estar coletivo. É esta Porto Alegre que vemos em franco processo de resgate do melhor da sua tradição, do qual tenho a honra de fazer parte.


SEBASTIÃO MELO
Vice-prefeito de Porto Alegre

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