terça-feira, 9 de dezembro de 2014

DA GRANDEZA DE UM POLÍTICO

Foto: Mauro Vieira/ZH
“Exigir, em um Estado livre, pessoas destemidas na guerra e tímidas na paz, é desejar coisas impossíveis. Como regra geral, sempre que virmos todos tranquilos em um Estado que dá a si mesmo o nome de República, podemos ter certeza de que nele não existe liberdade”. (Montesquieu)

Ao analisarmos uma sociedade e sua organização política, obrigatório se faz identificar onde está assentada a autoridade, porque nela reside a grandeza, só alcançada pela mola propulsora da atividade pública desinteressada, sustentada em ideais e valores republicanos.

E a autoridade e o poder numa República Democrática não são obtidos pela força e pela violência, que são a negação da política. Pois a política é essencialmente o exercício da fala, tão potente e arrebatadora que, pronunciadas as palavras, elas se tornam uma ação. Uma ação que mobiliza as pessoas, toca a razão e a emoção, simultaneamente, até o ponto de movê-las para que as instituições da res publica tornem-se sólidas e os assuntos públicos objeto de preocupação de todos.

Neste sentido, o poder não é um cargo, um posto ou um privilégio, mas o resultado da associação entre as pessoas, que quanto mais numerosa for e quanto mais grandiosos forem os seus objetivos, mais influente e virtuoso será este poder.

A autoridade é auto evidente, prescinde de justificativas políticas e morais. Ela se impõe pelo respeito e credibilidade alcançados pelos sujeitos republicanos e pelas instituições. É uma pessoa, é um lugar, aos quais os cidadãos se dirigem para aconselhamento, para denunciar, para reclamar, para propor, porque neles reconhecem o atributo da legitimidade, sem o qual a República e a Democracia, por tantas vezes na história da humanidade, tornaram-se despotismo, tirania, ditadura e, mas recentemente, totalitarismo. Quando soçobra a legitimidade, as sociedades veem-se mergulhadas na desorientação e na violência, porque se dissipam a confiança e a coesão social.

Feita essa necessária introdução, quero dizer que no Senador Pedro Simon, repousa a grandeza e com ela, por óbvio, o poder e a autoridade.

Este caxiense inquieto e que nasceu no estalar da Revolução de 30, é um símbolo de uma época em nosso país e nosso estado. Não só porque galgou, pelo voto popular, os mais importantes degraus da carreira política, mas, sobretudo porque, com sua fala e com suas atitudes, foi sujeito e opinião a ser ouvida nos momentos mais decisivos da ditadura militar, da redemocratização e consolidação da democracia.

Faço uso do pensamento de Montesquieu para afirmar que Pedro Simon, o advogado e pós-graduado em economia política e especialista em direito penal, estudante da Sorbonne e da Faculdade de Direito de Roma; o vereador, deputado estadual, governador, ministro de Estado e Senador, “foi destemido na guerra e em tempos de paz”. Simon, de fato, é a face mais corajosa e generosa de política brasileira da segunda metade do século XX e destes anos do século XXI.

Não tem sido diferente desde 2013, quando o Brasil, como de resto todo mundo, foi sacudido pelo desconforto com a política e com a forma como ela é feita pelos políticos. Desde junho de 2013, Pedro Simon tem se alinhado às mudanças que se alojaram na consciência e nas atitudes do povo brasileiro.
No início do ano eleitoral de 2014, Simon tomava uma decisão, que só sua legitimidade permitiria: não concorreria à reeleição e tal como Teotônio Vilela, o Menestrel de Alagoas, percorreria o país, usando o poder a autoridade da sua fala para transformar palavras em ações de mudança.

 Para ele, a mudança era a chapa que concorreria à Presidência da República, formada por Eduardo Campos, à Presidência da República, tendo como Vice, Marina Silva, ambos do PSB. E um pouco mais tarde, no RS, a mudança seria representada por José Ivo Sartori e Cairolli para o governo do Estado.
Mas legitimidade, autoridade e poder têm sua própria força e Beto Albuquerque, ciente disso, teve a grandeza de condicionar sua candidatura ao Senado, pelo RS, na chapa de Sartori, somente na hipótese de Pedro Simon reafirmar sua decisão de não concorrer. O que viria a acontecer.

A partir de então, o Brasil e o RS em particular protagonizaram um movimento cívico que mobilizou milhões de pessoas, movidas pela esperança de profundas transformações, pelas reformas política, tributária, pelo novo pacto federativo, pela ética na política.

No dia 13 de agosto de 2014, quarta-feira, o Brasil viveu uma das suas maiores tragédias políticas. Eduardo Campos, jovem político de Pernambuco, sofre um acidente aéreo e o país é tomado de tristeza. Porque Eduardo Campos, além de jovem, duas vezes governador, tendo sido reeleito com ampla margem, demonstrava percorrer o caminho trilhado pelos grandes estadistas brasileiros. O caminho trilhado também por Pedro Simon.

Marina Silva, que ingressara no PSB com sua inovadora REDE, passava a representar o desejo de mudança. E Beto Albuquerque, companheiro e amigo de Eduardo Campos e que juntos trilharam um longo caminho de construção de ideais e do PSB, é convocado a ocupar a candidatura de Vice Presidente da República. Marina e Beto registre-se, formularam a máxima que marcou a campanha eleitoral e será lembrada nos próximos quatro anos: “não se pode ganhar uma eleição de qualquer maneira. Não se pode ganha-la perdendo”. É uma denúncia, pelo que assistimos durante a campanha e hoje sabemos, mas é, essencialmente, uma máxima, desdobrada em atitudes e ações que enobrecem a política, recuperam sua legitimidade, sua autoridade e seu poder de construir uma Nação justa e digna.

No RS, nesta etapa, nosso candidato José Ivo Sartori, da coligação Um Novo Caminho Para o Rio Grande, aparecia nas pesquisas com 7% dos votos. Poucos dias depois, Marina Silva passaria a ameaçar o status quo com 27%.

No dia 25 de agosto de 2014, Dia do Soldado, a Coordenação da Coligação Um Novo Caminho para o Rio Grande, convidou Pedro Simon para uma conversa, na sede do Diretório Municipal do PMDB de Porto Alegre, localizada numa das Avenidas mais importantes da Capital gaúcha, a João Pessoa, 931, nominada em homenagem ao político paraibano que, junto com Getúlio Vargas, concorreu às eleições de 1930. Seu assassinato, no mesmo ano, é considerado uma das causas da Revolução.

Pedro Simon carregou consigo sua legitimidade, sua autoridade e seu poder para uma conversa que teve início às 20h e terminou às 2h da madrugada do dia seguinte. Conosco, lideranças do PMDB, muitos de nós formados na escuta do Senador, um pedido de Marina Silva e nossos argumentos para que ele aceitasse ocupar a vaga de candidato ao Senado, substituindo Beto Albuquerque.

Irredutível, Pedro Simon era movido pela convicção de que poderia contribuir para as mudanças percorrendo o Brasil de norte a sul, fortalecendo, com suas palavras que movem ações, a chapa de Marina e Beto. O desafio de convencer um político que encontra energias em sonhos e decide desinteressadamente e com grandeza é uma experiência que levarei por toda minha vida.

O fato é que só Pedro Simon poderá dizer ou escrever em que momento aceitou uma missão daquele quilate e com tantas dificuldades interpostas. Podem ter sido nossos argumentos. Pode ter sido o convite de Marina. Pode ele, na paz da democracia, não ter sido capaz de deixar de ser destemido... como sempre o fora. Ou pode ter sido um pouco de cada coisa, como por exemplo, em dado momento, termos abandonado os argumentos e dito a ele que faríamos o registro contra sua própria vontade.

Olhando hoje em perspectiva, quando os acontecimentos se assentam na tranquilidade do presente, tenho a convicção de que Marina, Beto e Pedro Simon cristalizaram uma imagem a respeito da política que mantém acesa a chama da mudança no Brasil. Que se Simon tivesse sido o candidato desde o início do pleito teria sido reeleito Senador da República. E, especialmente, que a ele devemos, em grande medida, a vitória de Sartori e da Coligação Um Novo Caminho o Rio Grande em meu estado.

Que 2015 venha com boas novas para o povo brasileiro. E que essas boas novas sejam o resgate do caráter da política, a mobilização do povo brasileiro e a busca permanente pela ética, pela justiça e pelo desenvolvimento social.

E para que isso tenha um bom rumo, democrático e republicano, precisaremos da grandeza, da autoridade, do poder e da legitimidade de Pedro Simon. Cruzando o país do Oiapoque ao Chuí.



Sebastião Melo
Vice-prefeito de Porto Alegre
Coordenação Coligação Um Novo Caminho para o Rio Grande

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Artigo: A HONRA E A HUMILDADE NA POLÍTICA

A finitude nos rouba a perspectiva do tempo. Nossa memória não comporta todos os saberes e todas as informações. Não por acaso, julgamos o passado como o melhor lugar para se viver, quando o desconforto com o presente bate à nossa porta.

Essa limitação humana é resistente aos fatos: em 1914, nossa expectativa de vida era de 40 anos; a morte de parturientes era a regra e ler e escrever um privilégio; o regime democrático era um luxo e o voto universal uma utopia. E foi naquele ano que a primeira Grande Guerra ceifou 10 milhões de pessoas e devolveu às cidades 20 milhões de feridos. De fato, o passado não é o melhor lugar para vivermos.

Vivemos mais, sabemos mais e em boa parte do mundo as pessoas percebem uma renda maior do que há cem anos. E isso, inegavelmente, é obra do desenvolvimento científico e da atuação dos governos. Mas, então, fica a pergunta: por que a desconfiança com a política e os políticos atravessou o último século?

Creio que a resposta não esteja tão somente nos problemas que as sociedades ainda enfrentam mundo afora, especialmente a pobreza, a violação dos direitos humanos e os limites da democracia. No Brasil, esses ainda são desafios não superados, além da reforma urbana e humanização de nossas cidades.

Proponho uma pausa neste ritmo alucinante que dificulta nossa reflexão, para que possamos olhar com humildade a forma como nos comportamos no espaço público. Porque uma sociedade é o resultado das ações e dos valores, tanto de quem se recolhe livremente às coisas da vida privada como dos que atuam em torno de causas, nos partidos políticos, nas entidades e nas instituições da República. É esta sinergia que “ergue e destrói coisas belas”, perenizando ideias e ideais.

Com efeito, é uma honra ser concebido e habitar o mundo, pertencer a uma comunidade, conviver no espaço público, ser escolhido para representar projetos políticos de sociedade, ocupando postos nas instituições, pois já sabiam os antigos que a “grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las”.

Pensando assim, talvez encontremos a resposta para o descrédito da política e dos políticos, como também, de uma vez por todas, aceitemos, cada um de nós, que devemos nos esforçar para merecer uma cidade e uma sociedade saudáveis.


Sebastião Melo