quinta-feira, 5 de junho de 2014

ARTIGO: Vai ter Copa: e a vida continua

Em poucos dias Porto Alegre receberá milhares de turistas, que visitarão a cidade para assistir aos jogos da Copa.  A hospitalidade é um tema tão importante, que foi tratado profundamente na filosofia, estando para Kant à altura do imperativo categórico, seu principal conceito: “age como se máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza.”

Se o filósofo alemão tivesse visitado o RS, poderia ter incorporado um elemento da nossa cultura à sua reflexão, porque seria recebido por nossa máxima, que é “aceita um chimarrão, tchê”, justificativa para a roda de conversa, para a trova, que traduz os costumes, a história do nosso povo e nossa hospitalidade.

Esta hospitalidade não estará interditada pelas dificuldades internas do nosso país e nem o evento foi ou será usado para ocultá-las, como o foi em 1970, pela ditadura, com o “pra frente Brasil”. Pessoalmente, vou torcer para nossa seleção sagrar-se campeã, como milhões de brasileiros; para que nossa economia seja beneficiada e Porto Alegre possa tornar-se um centro turístico.

Mas a Copa não suspenderá a democracia. Há sim uma agenda inconclusa em nosso país e ela é, sobretudo política. Por esta razão as pessoas estão indo para as ruas e não podemos confundir os seus desejos e pleitos com a violência provocada por pequenas seitas. Porque aquilo que a maioria quer é mais democracia e o direito de votar já não atende esta imensa vontade de interferir nos assuntos públicos, de construir um poder descentralizado, que a livre deste sentimento de impotência, frente a uma realidade que pode ser modificada para melhor. Pois o pior dos mundos é o governo da burocracia, no qual a responsabilidade é de ninguém.

Vai ter Copa sim, receberemos com chimarrão nossos visitantes e paralelo a isso nós, políticos e governantes, devemos cumprir com nossa obrigação que, hoje mais do que nunca, é ouvir e dialogar com os protestos, até consensuarmos formas de maior participação e poder de decisão da população nos destinos do país, dos estados e das cidades.