terça-feira, 10 de setembro de 2013

Artigo ZH: "Inclusão e Preconceito"

O pensamento ideológico que, com uma só ideia, pretende explicar o mundo presente e determinar o melhor futuro, legou apenas tragédias. “Maldito mundo que não se ajustou às nossas ideias, porque assombrado com nossos meios”, ainda repetem os ideólogos “do novo homem”.

Bendito Aristóteles que há muitos séculos ensinou que a cidade deve ser um território de homens livres, iguais em sua diversidade, com subsistência adequada e acesso a oportunidades, cujo fim é a felicidade.
Inicio esta reflexão com os “ismos” do século 20 e com o fundador da ciência política porque, às vezes, no debate sobre o projeto de emancipação com a inclusão social e produtiva dos catadores (carroceiros, carrinheiros e trabalhadores em unidades de triagem), alguns querem opor a ideia do “novo homem” ao desejo da cidade, que é a inclusão social de milhares de pessoas e a condição de liberdade, para poderem fruir de nossas melhores conquistas.

O projeto que apresentei e a Câmara de Vereadores aprovou em 2008, instituindo o Programa de Redução Gradativa do Número de Veículos de Tração Animal e de Veículos de Tração Humana, passou a ser implementado através do projeto Todos Somos Porto Alegre.

Uma ação conjunta de 10 secretarias, em parceria com a Braskem e com o BNDES, não torna a pobreza ilegal, mas afirma que a cidade pode denunciá-la como imoral, à medida que o investimento de R$ 18 milhões demonstra o quanto a vontade política pode equalizar oportunidades para a ascensão social, com a mesma eficiência com que constrói perimetrais.

O foco principal do projeto é a inclusão produtiva dos catadores (carroceiros, carrinheiros e trabalhadores em unidades de triagem), através da oferta de vagas de emprego e qualificações profissionais com bolsa-formação de R$ 678 mês; reestruturação das unidades de triagem e construção de novas unidades e educação ambiental. A exemplo do Camelódromo, que, a um só tempo, valorizou os empreendimentos e devolveu o espaço público à população, nossa intenção é oferecer oportunidades para que as famílias recuperem sua faculdade de escolha a respeito da profissão que melhor atenda às suas necessidades e capacidades.

Aquilo que a cidade entende como inclusão social, alguns ideólogos rotulam como violação de direitos, mesmo que o mercado do lixo e seus “empresários” submetam muitos catadores à escravidão, numa versão nativa dos “gatos de galpões”. E aqui é certo que os últimos dialogam com o pior de Aristóteles, para quem a vida boa e a felicidade na pólis estavam interditadas aos escravos, aos estrangeiros e em certa medida às mulheres e às crianças. De todo modo, 23 séculos de distância explicam seus preconceitos. No nosso tempo, repudiamos como perversidade.


SEBASTIÃO MELO
Vice-prefeito de Porto Alegre